terça-feira, 10 de julho de 2012

O CALOR DO METRÔ


Morando no Rio de Janeiro, diariamente vou e volto para o trabalho no delicioso transporte público de massa ... o METRÔ!! Minha escolha por esse transporte é diretamente relacionada com o prazer que ele me proporciona. Claro que para quem mora nessa linda cidade esse transporte é conhecido, assim como o prazer que se instala em cada viagem feita nos horários de pico. Porém, como sou mineiro e tenho inúmeros amigos e familiares que jamais tiveram essa oportunidade única em suas vidas, resolvi descrever esses momentos mágicos que tenho de puro frisson e dividi-los com vocês.

A situação é bem simples. Final do expediente e cansado com a jornada de trabalho, dirijo-me para a estação de Metrô. Passo o cartão de embarque na roleta e desço para o terminal. É nesse momento que tudo vira romance. A primeira coisa que tenho que fazer é escolher em qual das entradas irei ficar. No piso do terminal há adesivos marcando o local de parada das portas do vagão, indicando, assim, onde devemos esperar para poder adentrar no trem. Ressalto, portanto, que em todos os locais há um aglomerado de pessoas que aguardam atentamente a chegada do próximo trem. Escolho qual massa irei participar e me infiltro.




Alguns minutos depois, o metrô se aproxima. Estamos todos ali, aguardando no local esperado, local este marcado pelos adesivos no piso, e enquanto o vagão não para, a massa se aglomera e se consolida. Nesse instante, meus pés são retirados do chão. É o delicioso momento em que descanso os meus pés do intenso dia de trabalho. Enquanto os vagões vão passando, percebemos como estão lotados e como será inviável a entrada de qualquer outro ser vivo lá dentro... mesmo que seja um vírus. Há então o momento cômico. O condutor, que deve ser um indivíduo dotado de extremo humor, para o trem alguns metros fora da faixa marcada no piso. Então, toda aquela ultidão que aguarda de forma paciente a abertura das portas no local indicado percebe que o trem não parou no local correto e, num ato de movimento rítmico, se desloca inteira. Eu continuo no ar e minha única preocupação nesse momento é agradecer à mãe desse ser divino que tão habilmente melhora o final do meu dia.

As portas se abrem. Visivelmente não há lugar para as pessoas, porém o espírito de grupo, companheirismo e educação tomam o lugar e todos se apertam para que aqueles que estão do lado de fora possam entrar sem sacrifício e com todo aconchego de um show de rock. Eu poderia esperar um pouco mais para ir num próximo trem, talvez mais vazio, nunca se sabe. Mas quero lembrá-los de que meus pés não estavam no chão ... a massa decide por mim e de forma compacta coloca todas as suas células dentro do vagão, nem que para isso alguém tenha que ficar com a cara colada na porta.

                   


Lá dentro, sendo encoxado por um rústico pedreiro e com a cara enfiada no sovaco de outro, a primeira percepção do meu cérebro é o agradável odor. Imaginem, queridos leitores: final do expediente, Rio de Janeiro, calor, um dia de trabalho braçal... o perfume no ar é revigorante!! Como minha estatura é um tanto beneficiada, meu nariz me dá o imensurável prazer de ficar na exata altura das glândulas odoríferas desses perfumados cidadãos. Minha única tristeza é que estou tão compactado com a massa que meus pulmões não conseguem aproveitar ao máximo sua capacidade respiratória para inflar com toda força e, assim, se deliciarem com esse aroma, algo muito parecido com bouquet campestre. 

Mas, como se não bastasse o prazer que tenho pelo perfume, Deus criou os seres e deu a eles o extremo bom gosto musical. O carioca da periferia é um indivíduo abençoado com ouvidos divinos. O dom acústico é tamanho que essas pessoas amáveis nos dão o enorme prazer de compartilhar as obras-primas da composição musical brasileira ... o FUNK !! Essa deliciosa música acalma a multidão e coloca todos em estado de transe. Ficamos ali, absorvidos por toda beleza dos refrões e das harmoniosas batidas. Meu cérebro, nesse momento, é tomado por um prazer inenarrável.
           
           

Embriagado com todo esse odor e som, permaneço imóvel por três estações. Minha imobilidade é voluntária, já que a massa sempre me permite movimentar os dedos da mão e dos pés. Na terceira estação, eu já começo a me entristecer, pois todo esse carinho irá me abandonar. Nessa momento, a massa desce para trocar de transporte e eu, infelizmente, irei continuar a viagem. Quando o metrô começa a desacelerar, a multidão inicia o processo de movimentação rítmica e num movimento compassado, todos se voltam para a porta pela qual irão passar. Como meus pés ainda não estão no chão e como sou tímido, eu não conto aos demais companheiros que não pretendo descer. Portanto, sou carregado pelos queridos amigos para fora do vagão. Claro que lá fora eu consigo retornar ao embarque, mas isso só ocorre alguns metros depois, quando, finalmente, eu toco o solo. Esse é o único momento que tenho que agir por conta própria e com eficiência, pois só me restam alguns segundos para voltar ao vagão antes que a porta se feche e eu tenha que esperar pelo próximo. Esse é o momento em que minha altura é mais uma vez beneficiada, afinal consigo me infiltrar na multidão no sentido contrário e, assim, arrumo espaço para estar novamente no vagão.

No interior uma sensação de vazio ocupa meu peito. Todos aqueles que estavam ali e que com todo amor e educação me cercavam, me abandonaram. Terei de esperar mais cinco estações até chegar casa e, nesse percurso, sempre agradeço a Deus pela existência do transporte de massa, pela boa educação do povo brasileiro, pelo calor gostoso da cidade do Rio e mais ainda, por me dar a oportunidade de vivenciar essa experiência todos os dias da semana.

3 comentários:

  1. Amor, adorei o texto! Sempre há um jeito diferente de vermos as coisas, não? Hehehehe... Como sempre, você arrasou! Bjks, Grazi

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  2. heheheheh, mt bomm... É meu amigo, não sei mais o q é todo esse sentimento uns 3 anos. Nem de onibus ando maiss... hehehehee
    bjs FÊ

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  3. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Bom demais, Waguim!!! Saudades desse seu "humor peculiar"... kkkkkk
    O mais engraçado é que eu sempre leio os seu textos com a sua voz. E nem preciso dizer que os adoro! Me divirto sempre!!!
    Vc é muito bom com as narrativas!! Parabéns!!
    Bjooss!!
    Perroni

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